A BELEZA QUE SALVA O MUNDO: Uma reflexão a partir de Todorov, Wilde, Rilke e Tolkien
Quero contar um pouco das minhas descobertas essa semana; Em sua profunda investigação sobre a natureza do absoluto e a beleza, Tzvetan Todorov (foi um filósofo e linguista búlgaro radicado em Paris, França, desde 1963.)- nos convida a refletir sobre uma questão essencial: como viver o absoluto, essa dimensão inerente à existência humana? Durante milênios, o ser humano buscou compreender o absoluto através de diferentes perspectivas. Antes da Revolução Francesa, esse absoluto era muitas vezes identificado com Deus, enquanto no período pós-revolucionário, ele assumiu formas políticas como a Nação, a Classe ou a Raça. Contudo, na modernidade, muitos não se reconhecem mais nessas construções religiosas ou políticas, mas ainda assim, não renunciam à busca pelo absoluto.
Então, como os indivíduos modernos podem buscar o absoluto, construir suas próprias jornadas e encontrar sentido em suas vidas? Para Todorov, a arte surge como uma dessas respostas. Ele explora as trajetórias de três grandes artistas: Oscar Wilde, Rainer Maria Rilke e Marina Tsvetaeva, cada um deles em busca de uma vida plena de sentido e beleza.
A Busca pelo Absoluto na Vida e na Arte
Oscar Wilde, Rainer Maria Rilke e Marina Tsvetaeva não se contentaram apenas em criar obras inesquecíveis; suas vidas se tornaram uma extensão de sua arte. Wilde, com sua vida extravagante e cheia de contradições, seguiu o ideal do esteta, entregando-se completamente à beleza. Mas essa busca o levou à ruína física e psíquica. Rilke, obcecado pela perfeição artística, sofreu de uma profunda depressão, buscando a beleza em uma intensidade que sua alma não suportava. Tsvetaeva, marcada por paixões intensas e tragédias, sucumbiu à própria vida, não conseguindo suportar o peso da sua existência e a pressão pela beleza.
Essas vidas trágicas nos levam a questionar: em que consiste uma vida bela e plena de sentido? A beleza, em sua forma mais pura, pode nos salvar ou nos destruir? Wilde, Rilke e Tsvetaeva foram exploradores do extremo, e suas vidas nos deixam um legado de beleza, mas também de sofrimento.
A Beleza como Salvação e Fardo
Tzvetan Todorov, ao nos oferecer retratos dessas três figuras, não apenas nos conta histórias de decadência, mas nos convida a refletir sobre o papel da beleza e do absoluto em nossas próprias vidas. Para Wilde, Rilke e Tsvetaeva, a beleza foi tanto a salvação quanto a maldição. Na busca por algo além do ordinário, eles encontraram o extraordinário, mas esse caminho os levou ao abismo.
A obra de Todorov nos lembra que a busca pelo absoluto, pelo belo, é também uma busca por sentido e por transcendência. Mas como equilibrar essa busca sem nos perdermos em sua intensidade?
A Beleza e a Literatura: A Perspectiva de Tolkien
Ao lado dessa reflexão sobre a vida e a beleza, podemos trazer também a perspectiva de J.R.R. Tolkien, um autor que, em seu ensaio “Árvore e Folha”, explora o poder da literatura como um veículo para a beleza e o significado. Tolkien acreditava que a literatura, especialmente o mito e a fantasia, nos oferecia uma maneira de nos reconectar com algo além do nosso mundo imediato. Para ele, a literatura tem o poder de nos libertar das limitações do tempo e do espaço, oferecendo-nos um vislumbre de uma realidade maior e mais bela.
Tolkien, assim como Wilde, Rilke e Tsvetaeva, acreditava na busca pela beleza, mas sua visão era uma de esperança. Em seus escritos, especialmente em O Senhor dos Anéis, ele defende a importância da luta contra o mal e da preservação do bem e da beleza, mesmo em tempos de desespero. Para Tolkien, a literatura não era apenas um refúgio, mas uma ferramenta de resistência e esperança.
Ele também via a beleza como algo que podia nos salvar, e, ao contrário dos três artistas analisados por Todorov, ele oferecia uma visão de redenção. A beleza, para Tolkien, não era uma obsessão que consumia a vida, mas uma fonte de esperança que poderia sustentar a alma, especialmente em tempos difíceis.
A Reflexão sobre a Arte de Viver
Ao unir as reflexões de Todorov e Tolkien, podemos ver que a busca pela beleza e pelo absoluto não é uma tarefa fácil. Ela pode nos levar a alturas de grandeza, mas também a profundezas de sofrimento. O segredo está em como lidamos com essa busca.
A experiência de Wilde, Rilke e Tsvetaeva nos ensina que, ao perseguirmos o belo, devemos também nos lembrar de cuidar de nós mesmos. Já Tolkien nos lembra que a beleza, quando aliada à esperança e ao bem, pode nos salvar. Em um mundo onde o caos, a incerteza e a tristeza parecem prevalecer, é na arte, na literatura e na beleza que podemos encontrar um sentido maior, algo que nos une ao transcendente e ao humano.
Conclusão: Em Busca de Uma Vida Bela e Plena de Sentido
A busca pelo absoluto e pela beleza é inerente à condição humana. Alguns, como Wilde, Rilke e Tsvetaeva, exploraram essa busca até o limite, pagando o preço com suas vidas. Outros, como Tolkien, encontraram na literatura e na arte uma forma de resistir ao desespero e preservar a esperança.
Que possamos aprender com essas lições e encontrar nossas próprias maneiras de buscar o belo e o absoluto, sem nos perdermos no processo. Como Todorov sugere, a beleza tem o poder de salvar o mundo – e talvez, também, de salvar a nós mesmos.
Até a próxima!
Priscilla Novaes
Enviado por Priscilla Novaes em 13/05/2025