Em meio às pesquisas para meu livro, assisti a alguns vídeos e anotei ideias que se conectam diretamente com a proposta da obra. Um tema recorrente e urgente é o questionamento: o que a geração de hoje está ouvindo? Nas televisões, rádios, plataformas digitais, quais mensagens estão sendo entregues? E, mais importante, que tipo de humanidade estamos cultivando através disso?
Vivemos em uma sociedade moldada pela informação rápida e pelo consumo imediato. Os empresários da indústria cultural lançam suas iscas, monitoram as reações do público e, quando percebem aceitação, repetem a fórmula incessantemente. É o mercado pautando o gosto popular — ou, mais precisamente, moldando-o.
O problema não está apenas na repetição ou na superficialidade das temáticas. A maior preocupação é que muitas dessas músicas, salvo honrosas exceções, carecem de alma. São criações vazias de significado, focadas em narrativas de traição, sofrimento, violência e banalidades. E ao serem repetidas exaustivamente, vão moldando as mentes e sensibilidades — especialmente das crianças e adolescentes — para uma percepção empobrecida da vida e da arte.
Platão já alertava sobre isso. Para ele, a arte tem um poder formador da alma humana. Ela pode elevá-la ou corrompê-la. Molda costumes, valores e a própria percepção do mundo. Por isso, a arte deveria inspirar virtudes, beleza e reflexão. A música, enquanto uma das mais diretas formas de comunicação emocional, carrega essa responsabilidade.
O que se ouve hoje, em sua maior parte, não convida à reflexão, não desperta questionamentos, não promove o encontro com o belo, nem aponta caminhos de superação e resiliência. Pelo contrário — embota os sentidos, banaliza a dor, celebra a ignorância e anestesia o espírito crítico.
Vivemos também sob o jugo do utilitarismo. Aquilo que não gera lucro imediato ou resultado concreto é considerado dispensável. A arte, nesse contexto, sofre. Afinal, sua transformação é sutil, progressiva e profunda. Ela não é produto de resultados instantâneos, mas de amadurecimento interior. Ainda assim, é justamente ela que nos permite suportar os tempos difíceis e manter viva a essência da humanidade.
Como escreveu Eduardo Galeano:
“Somos feitos de histórias, de música, de poesia.”
E é isso que nos torna humanos.
Resgatar a boa música, os bons livros, o pensamento crítico e a contemplação da beleza é, nos tempos atuais, um ato de coragem. É caminhar na contramão de um sistema que prefere que sejamos distraídos, alienados e consumistas.
Você dificilmente encontrará isso nas rádios mais ouvidas ou no top 10 das playlists de streaming. Mas ainda existem aqueles que resistem — artistas, escritores, músicos, professores, leitores. E é por essas pessoas, e para elas, que este livro está sendo escrito!